domingo, 13 de março de 2011

Um bom início...

Sempre tive vontade de externar alguns de meus pensamentos... Mas por achar que eles não chamariam a atenção de alguém, fui deixando esta vontade de lado... E aí pensei: se não publicá-los, como saberei se chamariam a atenção ou não...??? E aqui estou... colocando a cara à tapa... risos... só espero que sejam tapas com luvas de pelica... risos...

E como primeira publicação, vou me dar ao luxo de colocar aqui um texto de um grande escritor... calma, não sou eu... estou me referindo ao fantástico Érico Veríssimo... cuja obra, descobri ainda na juventude lendo "Clarissa", um livro fácil... depois passei por "Incidente em Antares"... "Olhai os Lírios no Campo"... "Saga"... e um dos meus favoritos: "Solo de Clarineta", de onde tirei o texto que agora vos apresento:

"O meu amigo mais íntimo é o sujeito que vejo todas as manhãs no espelho do quarto de banho, à hora onírica em que passo pelo rosto o aparelho de barbear.

Estabelecemos diálogos mudos, numa linguagem misteriosa feita de imagens, ecos de vozes, alheias ou nossas, antigas ou recentes, relâmpagos súbitos que iluminam faces  e fatos remotos ou próximos, nos corredores do passadoe às  vezes, inexplicavelmente, do futuro enfim, uma conversa que, quando analisamos os sonhos da noite, parece processar-se fora do tempo e do espaço.

Surpreendo-me quase sempre em perfeito acordo com o que o outro diz e pensa.

Sinto, no entanto, um pálido e acanhado desconforto por saber que existe no mundo alguém que conhece tão bem os meus segredos e fraquezas, uns olhos assim tão familiarizados com a minha nudez de corpo e espírito.

Talvez seja por isso que com certa freqüência entramos em conflito.

Mas a ridícula e bela verdade é que no fundo, bem feitas as contas, nós nos queremos um grande bem.

Estamos habituados um ao outro.

Envelhecemos juntos. 

A face do outro é o meu calendário implacável.

"Os cabelos te fogem, homem" murmuro-lhe às vezes "Tuas carnes se tornam flácidas. Vejo a escrita do tempo no pergaminho do teu rosto". "E como imaginas que estás?" replica o meu reflexo.

Acabamos consolando-nos mutuamente com a idéia de que conservamos a mocidade de espírito.

Mas até onde isso será verdade?

Encolhemos os ombros e passamos a outras considerações e devaneios, enquanto o barbeador elétrico zumbe, e  o incansável calígrafo invisível continua no seu sutil trabalho de  amanuense da morte.

No homem do espelho reconheço os olhos escuros e melancólicos de minha mãe.

Essa cabeçorra, quase desproporcional ao resto do corpo, herdei-a de meu pai.

Quanto à pele morena, talvez me tenha vindo de algum remoto antepassado índio ou mouro.

As sobrancelhas negras e espessas — que passaram a vida no vão esforço de dar a essa cara um ar façanhudo, decerto como propósito de atenuar a mansuetude quase humilde dos olhos   foram suavizadas pela prata com que o tempo as retocou. (prata ou cinza?)

Eu gostaria de simplificar o problema de meu "temperamento", apresentando-me como a manifestação duma dicotomia, segundo a qual tendências que herdei de minha mãe sobriedade, senso de responsabilidade, devoção ao trabalho, à ordem e à normalidade podem ser comparadas comos muros duma cidadela sitiada e repetidamente atacada por insidiosos e alegres bandos de guerrilheiros constituídos por certos componentes do caráter de meu pai: sensualidade, auto-indulgência, inclinação para o ócio e para uma espécie de hedonismo irresponsável.

"Mas a coisa não é assim tão simples e nítida"   observa o  outro. "Eu sei, eu sei" — respondo em pensamentos — "mas  vamos adiante, companheiro. É pelos sendeiros do erro e da dúvida que havemos de chegar um dia ao reino da verdade."

O fantasma foca em mim os seus olhos secretamente céticos e murmura: "Será que esse reino existe mesmo fora da mitologia?". Ambos encolhemos os ombros."

É isto... espero retornar o mais breve possível, mostrando algo meu... o pontapé inicial foi dado... o número de visitantes ditará o meu sucesso... risos... pelo menos a minha visita eu vou ter... risos...

Quero dedicar este blog à uma pessoa que se diz avessa à coisas da internet: Rosane Toledo... Vc foi minha fonte de inspiração...

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